terça-feira, 2 de novembro de 2010

LIBERDADE ESTÉTICA

“Liberdade estética” é uma liberdade sui generis e não deve ser confundida de modo algum com liberdade ou autonomia encontrada na razão prática: “Para evitar mal-entendidos, lembro que a liberdade de que falo não é aquela encontrada necessariamente no homem enquanto inteligência, liberdade esta que não lhe pode ser dada nem tomada; falo daquela que se funda em sua natureza mista. Quando age exclusivamente pela razão, o homem prova uma liberdade da primeira espécie; quando age racionalmente nos limites da matéria e materialmente, sob leis da razão, prova uma liberdade da segunda espécie. A segunda pode ser explicada somente por uma possibilidade natural da primeira. (p. 17)

O Homem, como a experiência o apresenta, é para ela um material já corrompido e refratário, que lhe tira tanta perfeição ideal quanto acrescenta de sua constituição individual. Na realidade, portanto, ela pode apenas mostra-se como espécie particular e limitada, nunca como gênero puro; nas mentes tensas ela perderá algo de sua liberdade e multiplicidade, nas distendidas algo sua força vivificante; nós, entretanto, que agora lhe conhecemos o verdadeiro caráter, não sermos enganados pela sua aparência contraditória. Longe de estabelecer seu conceito a partir de experiências isoladas, como o faz a massa dos que julgam, e de responsabilizá-la pelos defeitos que sob sua influência o homem apresenta, nós sabemos que é o homem que transfere para ela as imperfeições de seu indivíduo; é ele quem, por sua limitação subjetiva, lhe obstrui ininterruptamente o caminho da perfeição e reduz seu Ideal absoluto a duas forma limitadas de manifestação.

O homem dominado unilateralmente por sentimentos ou sensivelmente tenso é dissolvido e posto em liberdade pela forma. O homem dominado unilateralmente por leis e espiritualmente tenso é dissolvido e posto em liberdade pela matéria. A beleza suavizante, para satisfazer a essa dupla tarefa mostrar-se-á sob dois aspectos. Em primeiro lugar, como forma calma, ela amenizará a vida selvagem e abrirá caminho das sensações para o pensamento, em segundo lugar, como imagem viva, ela armará de força sensível a forma abstrata, reconduzirá o conceito à intuição e a lei ao sentimento. O primeiro serviço ela presta ao homem natural, o segundo ao artificial. Todavia, por não legislar inteiramente sobre o seu material, mas depender do que lhe oferecem a natureza informe e o artifício antinatural, em ambos os casos ela terá marcas de sua origem, perdendo-se ora mais na vida material, ora mais na forma abstrata.
Para podermos conceber a beleza como um meio de suprimir essa dupla tensão, temos de tentar buscar sua origem na mente humana. Preparai-vos, então, para mais uma curta estada no âmbito da especulação, antes de deixá-lo de vez e prosseguir, com passo cada vez mais seguro, no campo da experiência. (carta XVII)


( Schiller, A Educação Estética do Homem)

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