quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Amor

A discrição do amor “Thomas Mann, me encantou e excitou de tal maneira, que renovei meu humor, e retorno ao blog.


“Num encontro como nunca ouve entre dois olhares. Assustados e absortos, perturbados e um pouco turvados de vergonha por serem tão diferentes de todos os demais olhares, mas sem que haja neste mundo nada que os livre dessa diferença, mergulham um no outro.

“Falam na linguagem comum sobre isso ou aquilo, mas tanto isso como aquilo são mentiras, assim como a linguagem comum, por isso suas bocas estão levemente repuxadas ao falar, como as dos que mentem, e seus olhos transbordam de uma doce mentira”.

“Uma fita os cabelos, os lábios, os membros do outro, depois esses olhos mentirosos baixam rapidamente, ou desviam-se para qualquer outro ponto no mundo, onde não tem nada a fazer, nem existe nada para ser visto, pois os olhos de ambos estão cegos para toda e qualquer coisa fora deles. E apenas se escondem no mundo para logo retornarem, mais brilhantes ainda, para os cabelos, lábios, e membros do outro”.


“Não demora chega o momento em que essas pessoinhas escolhidas ficam saturadas até a náusea da mentira e do fingimento, da linguagem banal das bocas repuxadas, então se despem de tudo como se já estivessem despindo as roupas, e pronunciam as únicas palavras verdadeiras no mundo, as únicas verdadeiras para elas, diante das quais todo o resto parece conversa fiada: as palavras são “Eu Te Amo”. E uma verdadeira libertação, a mais ousada e doce que existe, e com elas os lábios mergulham, pode-se dizer também embebem-se, um no outro no beijo, e esse acontecimento é tão singular em um mundo de separação e isolamento , que temos vontade de cair em pranto”.


Thomas Mann