sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

IN ON IT

Ontem fui a pré-estréia do espetáculo “IN ON IT”, de Daniel Macivor, com Emílio de Mello e Fernando Eiras, direção Enrique Diaz, e posso comemorar que comecei o ano com o pé direito nos espetáculos. O que dizer: Pra começar o teatro burguês da FAAP se transformou em um palco maravilhoso com toda a sua nudez. A interpretação e a direção são impecáveis. O texto? Hum... não sei, tenho um ponto de interrogação, posso dizer que o diretor e os atores extremamente capazes o transformaram e com um toque Brechtiano, deixaram assim por dizer perfeito. O que me tocou foi a delicadeza da relação entre dois homens.
Eu recomendo.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A arte de ser feliz


Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes um galo canta. Às vezes um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz. Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

(Cecília Meireles)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Treinamento de Atores - Teatro do Incêndio

Quartas-Feiras 19h às 22h


Para melhor visualização click na imagem.

Eu não existo sem você

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você
Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você

(Vinícius de Moraes)

Do Desejo - Hilda Hilst

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
(Do Desejo - 1992)

* * *

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
( Do Desejo - 1992)

* * *

Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Na Selva das Cidades - Bertolt Brecht

Liz Reis e Rene Ramos


Marcelo Marcus Fonseca e Rene Ramos


Thiago Molfi e Liz Reis

Ivon Mendes e Marcelo Marcus Fonseca



Liz Reis




Imagens registradas por Dani Sandrini.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

AUX PIEDS DE LA LETTRE

Não sei como começar, mas posso dizer que ganhei um grande presente ao assistir meu primeiro espetáculo do ano. Aux Pieds de la Lettre, eu já conhecia a companhia quando meu querido amigo Célio Amino me convidou para assistir, e após dois anos volto lá, com o Marcelo para prestigiar e apreciar esses talentosos atores-bailarinos Arthur Ribeiro e André Curti.


“A manipulação do corpo – que faz com que se transforme e se torne, em determinados momentos, um corpo-objeto- é um aspecto essencial da pesquisa do movimento. O prolongamento natural desta pesquisa conduz à utilização de objetos-acessórios e do objeto-cenário como pontos de ancoragem da ação dramática e com possibilidades de construção coreográfica.”

“A iluminação e os figurinos são estilizados e transpostos para realçar a poesia da história e a experiência das personagens.” Artur Ribeiro e André Curti têm uma visão da criação absolutamente integral. Nada é isolado e nada se acrescenta, tudo provém de um mesmo universo e de uma mesma intensidade".

O espetáculo

Aux Pieds De La Lettre


Eles são dois, às margens do vazio. Surgem em um palco quase num com apenas uma mesa de formas burlescas e mágicas...

À margem do mundo exterior, o corpo de um serve à loucura do outro. Os corpos se tornam escravos do imaginário. Um , com seus delírios místicos, abstina-se em escrever uma carta que precisa enviar ao mundo; o outro, vítima de suas obsessões, luta contra a poeira imaginária que suja seus pés e acredita ser o responsável pelo nascer e o pôr-do-sol.

Pequenas loucuras solitárias, delírios, rituais de sobrevivência, manias e digressões ecoam através de uma gestualidade poética. Oscilando entre tragédia e comédia, eles se amparam aos gestos do cotidiano, com musicalidade constantemente renovada e uma incessante invenção teatral.

Aux Pieds de la Lettre é uma criação gestual plena de emoções, que navega entre a ternura e risos inesperados.

(Texto extraído do programa)



Só posso dizer que me diverti muito, e senti uma solidão avassaladora.

Prisioneira de uma sociedade cruel, que invadi a alma do ser e o transforma em objeto.

Preciso voltar aos palcos e fazer transbordar o meu ser.

Cortar o tempo

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,a que se deu o nome de ano,foi um indivíduo genial.Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.


Carlos Drummond de Andrade